Ao escolher criança com síndrome de Down casal “saltou” na fila de adoção
Era 12 de janeiro de 2015, quando a enfermeira Cíntia Fleck voltou de férias pela manhã pronta para reassumir seu trabalho na UTI neonatal do Hospital Conceição.
Naquele momento ela encontrou um menino com 15 dias de vida. O menino tinha sido colocado para a adoção pela mãe, moradora de Taquari (RS), visto que ela que não tinha condições de criá-lo. Ele estava prestes a ser levado por assistentes sociais comarca da cidade.
Cínia não conseguiu deixar o menino partir. Mesmo tendo visto o menino por alguns momentos ela teve certeza que queria adotá-lo. Ela que trabalhava nos hospitais há muitos anos, nunca tinha se envolvido com nenhum bebê dessa maneira.
Primeiramente, Cíntia estava tão apaixonada pelo bebê que nem percebeu que ele tinha síndrome de Down. Só percebeu no momento em que as assistentes sociais falaram para ela. Naquela mesma manhã Cintia ligou para seu marido e disse que ela estava com o filho deles nos braços, e que só tinha um probleminha, o bebê tinha síndrome de Down. O marido nem ligou para isso também. Em poucos minutos a enfermeira já estava mandando fotos do garoto para o marido de Cíntia.
A adoção
No mesmo dia foi dado início aos trâmites da adoção. No dia seguinte eles já tiveram uma audiência para tratar da adoção. Como não havia mais ninguém manifestando o interesse de um bebê com síndrome de Down, o casal era o primeiro da lista para a adoçã,o no CNA – Cadastro Nacional de Adoção (CNA), e já saíram do Fórum com a guarda do bebê.
Eram 15h30 quando Cíntia ligou para o marido dizendo: “Amor, a guarda é nossa”. “Dizem que ele sapateava no escritório”, relembra. “Foi ali que a ficha caiu”, conta Luciano. Ele já era pai.
A celeridade do processo foi grande porque Cíntia e Luciano passaram na frente de muita gente. O motivo para isso é justamente terem escolhido adotar uma criança com Síndrome de Down.
Como funciona o processo de adoção
O primeiro passo para a adoção é o casal habilitar-se para tal. para tanto eles devem procurar o Juizado da Infância e Juventude da comarca onde moram e preencher um formulário manifestando a intenção e com informações pessoais.
Em segundo lugar, devem juntar documentos exigidos pelo ECA, participar de avaliação psicossocial, etapa na qual assistentes sociais e psicólogos determinarão se estão prontos para a adoção e quando poderão definir o perfil desejado, e acompanhar cursos de preparação com informações jurídicas, emocionais, etc. Ao fim desse processo, o juiz decide se os pretendentes estão habilitados ou não para adoção.
Com isso são inscritos no CNA – Cadastro Nacional da Adoçã e devem aguardar por uma ligação dos responsáveis pelo cadastro.
As ligações são feitas levando em consideração a ordem de inscrição, de acordo com o perfil escolhido.
Perfil
Normalmente o perfil mais escolhido é: crianças saudáveis, sem irmãos, de 0 a 3 anos. A espera nesse perfil pode ser de anos.
Quem olha de fora, pode até achar desumano os pretendentes poderem escolher um perfil exato para seus futuros filhos, que, além da idade, inclua cor de pele, cabelo, se tem alguma doença crônica ou não, entre outras características. Mas há uma razão para isso. Porque não são todas as pessoas que tem condiçõe e estão preparadas para receber um adolescente.
O objetivo é evitar a devolução de crianças e adolescentes em razão da não adaptação no novo lar. A devolução de crianças é o pior dos mundos dentro de um processo de adoção. Pois essa devolução pode causar problemas psicológicos na criança e no adolescente devolvido. Por isso, é grande a responsabilidade que se tem no sentido de primeiro se verificar se a pessoa realmente tem condições de adotar uma criança ou adolescente e também do próprio acompanhamento desse estágio de convivência.
Resolver ajudar não basta. Quem deseja adotar deverá ter uma elevada tolerância a frustração. Não é facil.
Ansiedade e mudanças de planos
A rapidez do processo de Luciano e Cíntia ocorreu porque eles já estavam habilitados no CNA, desde 2014. Cintia já tinha dois filhos biológicos de um casamento anterior, Matheus, 22, e Luíza, 16. E Luciano ainda não, mas desejava ser pai. Como Cíntia tinha passado por uma cirurgia de ligadura de trompas, o casal primeiro tentou reverter o processo e realizar fertilização in vitro. Mas, não obtiveram sucesso. Resolveram então adotar.
Mas o perfil escolhido por eles era bem diferente do que viriam a encontrar em Théo. Eles queriam uma menina de até três anos, indiferente da cor. A única coisa que eles não queriam era doenças crônicas, isso foi bem esclarecido. Aí deram de cara com Theo.
O que leva alguém a adotar uma criança com Síndrome de Down? A pergunta pode parecer cruel, mas é necessária diante do fato de que a maioria esmagadora dos pretendentes inscritos no Cadastro Nacional fazem questão de pontuar que procuram uma criança ou adolescente saudável. Esse era o caso, inclusive, de Cíntia e Luciano.
Perfil escolhido X realidade
Sem hipocrisia, Cíntia diz que talvez nunca tivessem mudado o perfil desejado caso não tivesse tido contato com Théo no hospital.
O único medo que Cíntia ainda tem é que o menino possa sofrer bullying. Do contrário, diz tratá-lo da mesma forma que seus filhos anteriores.
O amor à primeira vista levou Cíntia a superar os temores que poderia ter e também os “alertas” que recebeu de colegas do hospital. “No momento em que eu conheci o Théo, o médico de plantão me puxou e me alertou: ‘Tu sabe o que é uma Síndrome de Down? Eu não recomendaria ninguém a adotar’. Ele disse. Muito sério, olhando no meu olho. Aquilo me irritou muito”.
Também foi chamada de “louca” e questionada sobre o que o menino poderia lhe dar em troca: “Eu disse que o que eu espero ele vai poder me dar: muito amor e carinho”, afirma.
E assim foi. Com uma alegria que contagia a todos que o conhecem, Théo virou o xodó da família, se dando muito bem com os irmãos. “Ele é muito carinhoso, sempre quer abraçar e beijar”, diz Cíntia. “A minha filha de 16 anos uma vez disse para mim: ‘eu queria ter um filho com Síndrome de Down, mãe’. Aquilo me assustou no início, mas ao mesmo tempo eu pensei que tenho um filho assim e é tão bom”.
Deixe o amor te surpreender
O fato de terem aberto o coração para uma adoção fora do comum fez de Luciano e Cíntia, e do pequeno Théo, uma das estrelas da campanha “Deixe o Amor te Surpreender”, promovida pelo Tribunal de Justiça do RS.
Para a juíza Andréa Russo, o foco da campanha e do trabalho do juizado é justamente “oportunizar uma reflexão” para que os pretendentes a adoção possam flexibilizar o perfil de crianças e adolescentes procurados. Além disso, ela afirma que as assistentes sociais do TJ em Porto Alegre estão iniciando um projeto piloto para, naqueles casos em que não há combinação perfeita entre os moradores de abrigos e inscritos no CNA, se possa buscar pretendentes com perfil aproximado. “Às vezes, o pretendente quer uma criança de até cinco anos. Então, quem sabe com seis?”.
A assistente social Angelita explica que, a partir do momento que ocorre essa flexibilização, inicia-se então o processo de busca do consentimento dos menores. “No momento em que alguém se dispõe a flexibilizar o seu perfil e conhecê-lo, a gente vai pegar esse interesse do adulto e buscar o consentimento do adolescente e do pré-adolescente. Falando que encontramos uma pessoa, que ela está muito interessada em conhecê-lo, e propõe o encontro”, explica.
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Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br
Eu achei a história linda só uma coisa que me chocou foi o fato do médico dizer de uma maneira impactante que pelo visto não conhece nada sobre a síndrome de down triste cono tem tanto preconceito mas eu já passei mais ou menos por isso quando a médica veio dar a notícia sobre meu filho esses médicos precisam se especializar mais enfim Parabéns para esse casal essa criança e uma luz em nossa vida meu filho hoje tem 5 anos e não vivo mais sem ele uma criança esperta e nos traz muita felicidade aprendemos a cada dia mais com ele Amo mais que tudo,voceis verão que eles nos surpreende todos os dia parabens e que Deus abencoe a sua familia ?