Com paralisia cerebral advogado cursa doutorado em Direito em Universidade pública
Lucas Emanuel Ricci Dantas, 28 anos, é um dos estudantes do programa de pós-graduação em Ciência Jurídica da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).
Além de advogado, o jovem já é mestre em Direito pelo Centro Universitário Eurípedes Soares da Rocha de Marília (Univem).
O rapaz tem paralisia cerebral, causada por falta de oxigenação no cérebro durante a gestação, que não o impediu em nada de conquistar esses méritos.
Como consequência dessa paralisia o rapaz possui dificuldades na locomoção, na fala e não possui coordenação motora para escrever.
Com muito esforço e força de vontade, mesmo diante de tantas adversidades Lucas construiu uma sólida carreira no Direito nas áreas de Direito Constitucional e Processual Civil.
No momento, em seu doutorado Lucas foca sua pesquisa na área de Direitos Humanos com ênfase em inclusão da pessoa com deficiência, políticas públicas e educação para direitos humanos.
Além do doutorado Lucas tem seu escritório de advocacia Dantas e Santana, em sociedade com sua irmã Andrea Ricci Dantas Yanaguizawa e a sua noiva Jenifer Santana. O escritório de Lucas é o único escritório do país com um núcleo especializado no atendimento à pessoa com deficiência.
As aulas de doutorado acontecem quinzenalmente em Jacarezinho, e o jovem conta com a ajuda do pai, que o leva as aulas e o ajuda a escrever seus documentos.
Segundo Lucas suas mãos não acompanham o seu cérebro. Mas ele lê muito, estuda muito, trabalha muito, faz anotações à minha maneira e consegue digitar, mas não tão rápido. Seu pai o ajuda sempre que possível.
Desafios superados
Apesar de possuir uma série de limitações físicas relacionadas à paralisia cerebral, Lucas é contra rótulos que possam diferenciá-lo por sua condição. Segundo o rapaz ele não é um prodígio. Ele é uma pessoa esforçada. Na verdade, ele tem capacidade para ser mais ainda, e às vezes se sente preguiçoso.
“O ingresso de Lucas no Doutorado nos tem feito pensar em políticas de acesso e permanência à pessoa com deficiência no ensino superior, especialmente no nosso Programa de pós-graduação”, destaca o coordenador do Programa, professor-doutor Fernando Brito.
Atualmente, a UENP tem cerca de 30 acadêmicos com algum tipo de deficiência física, visual ou auditiva. O processo seletivo vestibular oferece condições especiais para pessoas com deficiência, tendo acréscimo de uma hora no tempo de prova e demais alterações nas condições de realização do exame, conforme a necessidade de cada candidato, avaliada por uma banca específica.
Trajetória e visões
Lucas iniciou seus estudos em classe especial. Após terminar o ensino fundamental cursou turmas regulares. Durante o ensino médio cogitou em fazer outras faculdades mas optou por direito.
“Não muito depois eu também decidi que queria ser professor. Por isso acabei seguindo o caminho da vida acadêmica e hoje faço doutorado na UENP. Quero lecionar e produzir. No próximo semestre já farei estágio em docência junto aos alunos do curso”, relata o acadêmico.
O rapaz sabe que o preconceito existe, mas não o teme. “Eu já sofri muito com preconceito. Hoje, não mais. As pessoas me respeitam e reconhecem o meu trabalho. Mas é preciso educar para prevenir também o preconceito à pessoa com deficiência”, afirma o rapaz
Sua impressão sobre o cenário atual relativo a educação e a inclusão da pessoa com deficiência na área acadêmica para ele ainda está longe do satisfatório. “Os alunos, de forma geral, são pouco incentivados a chegar até a pós-graduação. Se não é comum para os indivíduos sem deficiência ingressar em mestrados e doutorados, imagina para uma pessoa deficiente”, compara.
“Falta investimento para atrair e manter a pessoa com deficiência estudando. A maior parte dos deficientes vem de classes mais baixas, pois muitas das deficiências são causadas por problemas na gravidez que seriam evitados se houvesse o acompanhamento médico adequado. Mas, para uma pessoa em estado de vulnerabilidade, esse cuidado nem sempre é possível. São necessárias mais políticas públicas de inclusão ao deficiente em todos os níveis educacionais, do infantil à pós-graduação”, defende o rapaz.
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Fonte: www.tribunadovale.com.br