Menino surdo não consegue seguir às aulas em ensino remoto.
Sónia Azenha, 38 anos, quer que o filho fique retido no 4.º ano. Surdo, com baixa visão e hiperativo, Gonçalo não consegue acompanhar as aulas em ensino remoto.
Apesar de constar uma intérprete de língua gestuais nos vídeos da escola, o menino não consegue prestar a atenção na imagem da profissional que fica num canto pequeno da tela. Com isso, ele se distrai com facilidade com os professores e imagens apresentadas na aula virtual. Desde que acabaram as atividades presenciais, a mãe assegura que o menino regrediu.
Apoio da família
Sónia Azenha tem conhecimento na língua gestuais tenta ajudar Gonçalo, de 11 anos, como pode, mas são sempre interrompidos pela filha mais nova, Margarida, de 15 meses, que está começando a andar e adora desligar a tela. Apesar destes contratempos, a encarregada de educação, de Setúbal, considera que é possível melhorar o ensino remoto, através do aumento do tamanho da janela do intérprete. Em alternativa, propõe a criação de um canal para crianças com problemas auditivos.
“A resolução deste problema seria o aumento do tamanho do intérprete para meio ecrã, de preferência sem janela, e também a colocação de legendas, pois nem todas as pessoas surdas sabem LGP“, afirma o presidente da Federação Portuguesa das Associações de Surdos, Pedro Costa.
Já o presidente da Associação Nacional e Profissional da Interpretação em Língua dos Sinais, Renato Coelho, entende que o intérprete devia estar ao lado do professor. “Desta forma, estaria assegurada a acessibilidade plena aos conteúdos por parte dos alunos surdos, cuja LGP se apresenta como primeira língua no currículo escolar“, justifica Renato Coelho. “A televisão deveria ser a última opção“, sublinha. Para mantê-lo prestando atenção, diz, terá de ter 1/6 da tela, como determinam as normas.
Interpretação adaptada
Pedro Costa defende ainda que a tradução dos conteúdos do 1.º Ciclo deve ser feita por docentes de LGP, para que sejam “adaptados às crianças surdas, pelo seu nível de proficiência e pela idade“. Posição partilhada por Renato Coelho, que também considera fundamental “assegurar que os intérpretes tenham experiência em contexto educativo e que, idealmente, interpretem os níveis escolares que tinham no ensino presencial”.
Antes da pandemia, Gonçalo frequentava uma sala para meninos do ensino especial numa escola do Seixal, em Portugal. Desde que as aulas foram suspensas, vai fazendo algumas fichas em casa, impressas com letra maiúscula e com imagens aumentadas, por ter uma capacidade de visão de apenas 15 a 20%. “Comprámos uma impressora de propósito, para ampliar as imagens, e os tinteiros são caríssimos”, lamenta Sónia Azenha.
“Se me sinto frustrada, nem imagino as duas mães que estavam a chorar, da última vez que fui à escola, porque não tinham computador, nem tablet, e não sabiam como ajudar os filhos“, conta a mãe de Gonçalo.
Angustiada por saber que o filho está mal preparado para ser aprovado para o 5.º ano, considera que este foi um “ano perdido”. Garante ainda que não deixará Gonçalo ir às aulas presenciais, enquanto não houver uma vacina para a covid-19, pois tem baixa imunidade.
Aqui no Brasil, a maioria das famílias tem relatado que mão estão recebendo os conteúdos adaptados para os filhos. E que nem sempre eles dispõe da tecnologia necessária para assistir as aulas.
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Fonte:https://www.jn.pt